Artigo de Olga Oksman sobre os presentes recebidos pelos presidentes dos Estados Unidos

Dos presentes dos Presidentes

Por Olga Oksman

Em 1880, a Rainha Vitória deu ao Presidente Rutherford B. Hayes uma mesa ornamental feita com a madeira do navio britânico ‘H.M.S Resolute’[1]. Anos mais tarde, essa mesa faz parte do mobiliário permanente do Salão Oval, atrás da qual se sentaram gerações de presidentes. É talvez o símbolo mais visível dos presentes, por vezes extravagantes e frequentemente bizarros, apresentados aos presidentes norte-americanos.

Durante décadas, os líderes estrangeiros encheram-nos de presentes: Theodore Roosevelt – uma zebra e um leão da Etiópia; Richard Nixon – um panda da China; George W. Bush – 300 libras (136 quilos) de carne de cordeiro da Argentina. Lloyd N. Hand, chefe de protocolo durante a administração de Lyndon B. Johnson, relembrou um caso em que o primeiro-ministro do Reino Unido presenteou o presidente com um casaco Burberry. Quando a delegação do Reino Unido estava de partida, Johnson experimentou o casaco e descobriu que as mangas eram muito curtas. Johnson deu o casaco a Hand e perguntou-lhe se ele poderia falar com o primeiro-ministro antes de partir e trocar o casaco pelo tamanho certo. Hand lembra-se de ter saído e corrido até a limusine onde estava o primeiro-ministro, enquanto o Serviço Secreto observava, imaginando o que estaria acontecendo. Ele conseguiu alcançá-lo e trocar o casaco.

No passado, todos os presentes de dignitários estrangeiros tinham de ser aprovados pelo Congresso, após o que poderiam tornar-se propriedade do destinatário. Mas à medida que os EUA ganharam destaque no cenário mundial, uma divisão de protocolo foi criada em 1928 para ajudar os presidentes a entreter os dignitários visitantes e, claro, a organizar as habituais trocas de presentes. Hoje, os presentes estrangeiros – desde pinturas a punhais cerimoniais – são enviados para o Arquivo Nacional.

Certa ocasião, durante a administração de George W. Bush, fez-se um telefonema ao Arquivo Nacional para buscar um cachorrinho. O presidente da Bulgária havia dado o cachorrinho como presente durante uma visita oficial e, como os presidentes dos EUA estão limitados em termos dos presentes que podem aceitar de líderes estrangeiros, o cãozinho teve de ser enviado diretamente para o Arquivo Nacional. Mas, como um cachorrinho é difícil de arquivar, o mesmo acabou sendo entregue a uma família.

O Presidente Obama e a sua família receberam de tudo, desde espadas até um “manto de tecido branco diáfano”. Em algumas ocasiões, os países apresentaram uma coleção de pequenos presentes, como quando o governo da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte presenteou Obama, entre outras coisas, com um pacote de sal marinho, um pequeno diário pessoal coberto de tecido e um conjunto de quatro porta-copos. Brunei tentou a mesma abordagem, dando ao presidente, entre outros presentes, 12 velas perfumadas e um infusor de chá em forma de pinguim. Naquele mesmo ano, o sultão da Malásia deu ao presidente uma espada de aço de 20 polegadas incluindo uma bainha incrustada de pedras preciosas, e, para não ficar atrás, o primeiro-ministro da Argélia deu ao presidente uma adaga cerimonial com incrustrações de coral e detalhes em prata. Contudo, é provável que não há nada capaz de superar o presente do seguro de crocodilo dado pelo ministro-chefe do Território do Norte da Austrália.

Entretanto, assim como os presidentes recebem presentes, eles também têm a tarefa de os dar, o que pode ser igualmente desafiante. Por exemplo, quando Obama deu ao então primeiro-ministro Gordon Brown, do Reino Unido, uma seleção de filmes americanos clássicos em DVDs, a escolha do presente foi ridicularizada na imprensa britânica como sendo um presente bobo e sem imaginação.

A participação do presidente na seleção dos presentes varia consoante o cargo. Hand lembra que Johnson às vezes sugeria o que ele queria presentear. Mas na maioria das ocasiões, o Gabinete de Protocolo fazia um ‘brainstorm’ e apresentava as melhores ideias ao presidente e à primeira-dama para aprovação.

Ao tentar montar um presente para um líder estrangeiro que o presidente não conhecia bem, Hand convocava uma reunião com o embaixador do país para discutir opções de presentes, junto com o Serviço Secreto e quaisquer outros departamentos envolvidos na visita, ele (Hand) me disse. Não é de surpreender que uma grande restrição para presentes oficiais é que eles devem ser feitos nos Estados Unidos. Por esse motivo, objetos de prata Tiffany e de vidro Steuben sempre foram considerados escolhas populares. O presidente Bill Clinton tinha um ‘cachepot’ (espécie de vaso) de prata Tiffany personalizado, que ele deu a muitos chefes de estado visitantes.

À medida que os presentes que os presidentes dos EUA recebiam começaram a tornar-se mais extravagantes, foi promulgada uma lei voltada a assegurar que os presentes não dessem a impressão de impropriedade. A Lei de Presentes e Decorativos Estrangeiros de 1966 foi motivada, em parte, pelos presentes caros que alguns reis árabes traziam nas suas visitas, como carros luxuosos e cavalos de raça, de acordo com Hand. Na cultura política, “a percepção torna-se realidade”, diz Hand, e não parecia bom que o presidente aceitasse algo tão chamativo de um líder estrangeiro. A lei estabeleceu um limite ao valor de um presente que um presidente podia aceitar, com a maioria dos presentes indo diretamente para o Arquivo Nacional após serem presenteados. Em janeiro de 2014, o limite estava  definido em US$ 375.

Os presentes dos ex-presidentes estão localizados no Arquivo Nacional, ou, podem ser transferidos para a respectiva Biblioteca Presidencial quando o presidente se aposenta. Os presidentes e outros funcionários do governo têm a opção de comprar os presentes que receberam no cargo pelo seu valor de mercado, se assim o desejarem, como fez Hillary Clinton após o seu mandato como secretária de Estado. Ela optou por comprar um colar de pérolas negras que lhe foi dado pela líder da oposição de Mianmar, Aung San Suu Kyi, em 2012, ao preço de 970 dólares. Mas normalmente, os presentes tornam-se uma relíquia da diplomacia passada, um pouco de história na forma de um inovado infusor de chá ou de uma adaga cerimonial, cuidadosamente catalogados e guardados.

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Fonte: The Atlantic, FEBRUARY 16, 2016

Olga Oksman é uma jornalista baseada em Nova Iorque. Seus artigos já apareceram nas seguintes publicações: The Guardian, Gizmodo, Forbes, e no McSweeney’s Internet Tendency.


[1] O navio ‘HMS Resolute’ foi um navio da Marinha Real Britânica de meados do século XIX, equipado para a exploração do Ártico. O Resolute ficou preso no gelo e foi abandonado em 1854. Recuperado por um baleeiro americano, ele foi devolvido à Rainha Vitória em 1856. As madeiras do navio foram posteriormente usadas para construir a mesa Resolute que foi apresentada ao Presidente dos Estados Unidos e está localizado no Salão Oval da Casa Branca. Wikipedia.

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